ARTE E SAÚDE: MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE E NISE DA SILVEIRA
- Jornal A Sístole
- 12 de jan. de 2021
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Por Rachel Boechat
Em 1905, nasce uma figura histórica brasileira conhecida com Nise da Silveira. Formou-se em 1926 como única mulher em sua turma de 157 alunos na Faculdade de Medicina da Bahia. Em 1927, Nise da Silveira muda-se para o Rio de Janeiro, após o falecimento do seu pai, ao lado do seu marido e colega de classe o sanitarista Mário Magalhães. Durante a estadia na capital carioca, o casal começa a frequentar reuniões de estudo sobre o marxismo, motivo pelo qual a médica foi presa por 15 meses durante a ditadura varguista. Sua estadia no cárcere rendeu o encontro com grandes escritores da literatura nacional como Graciliano Ramos e Raquel de Queiroz. O escritor escreveu sobre a médica em seu livro Memórias do Cárcere de 1954:
“... lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-se culta e boa. Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se a tomar espaço. O marido também era médico, era o meu velho conhecido Mário Magalhães. Pedi notícias dele: estava em liberdade. E calei-me, num vivo constrangimento”
Após ser liberta, em 1944, Nise da Silveira começa a trabalhar no Hospital Pedro II, antigo Centro Psiquiátrico Nacional, no Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro. Entretanto, sentia-se incapaz de realizar seu trabalho devido as descrenças quanto a psiquiatria tradicional dos anos 40, que envolvia: lobotomias, camisas de força e isolamento. Foi, então, quando o diretor do hospital, também concordando com as inconsistências da terapêutica violenta, convidou Nise para fundar o departamento de terapia ocupacional do hospital. Após o trabalho bem sucedido da médica, os pacientes do hospital puderam contar com um espaço diferenciado, em liberdade para serem o que eram. Ali eram acolhidos, entendidos e contavam com materiais artísticos como pincéis, tintas e argila para produzirem imagens do inconsciente.
Com uma visão sobre a potencialidade e a riqueza cultural e científica daquele ambiente, Nise da Silveira funda o Museu da Imagem do Inconsciente em 1952. Tornando, assim, possível a preservação das obras e expandido as pesquisas em psiquiatria e psicologia para todas as áreas da saúde, um estudo interdisciplinar em saúde sobre o inconsciente. O museu possui um dos maiores e mais variados acervos do mundo com mais de 350 mil obras. As principais obras são tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Além disso, o museu guarda também a biblioteca e o arquivo pessoal de sua fundadora e é detentor do Registro Mundial no Programa Memória do Mundo da UNESCO.
Nise da Silveira foi um exemplo de resistência e prática médica. Foi sensível vulnerabilidades e a estados de saúde pouco entendidos na sua época. É com grande orgulho que o Arte e Saúde apresenta essa figura histórica e a sua produção que revolucionou o cuidado aos pacientes psiquiátricos no âmbito nacional. Nise foi eternizada e fez o mesmo, em igualdade, com os seus pacientes através da criação do Museu da Imagem do Inconsciente.

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