ARTE&CULTURA: Os Quarentênicos
- Jornal A Sístole
- 8 de jul. de 2020
- 2 min de leitura

Os Quarentênicos
Epopeia das grandes navegações invisíveis da pandemia
A gente jovem e suas mentes floridas
Que, da Princesa praiana lendária,
Com máscaras nunca antes vestidas
Transpassaram a barreira sanitária
Em perigos e medo das medidas
Mais até que da infecção solitária
Entre decretos e tristes notícias
Fizeram dos laços suas primícias
Estudamos transmissibilidade
Coronavírus dá febre e anosmia
Quanto a estar preso na própria cidade
Não aprendemos em Virologia
A um metro do outro faz caridade
Quem não troca por fome a alforria
E se avistamos alguém no mercado,
Caro que seja, o abraço é vedado
Quando voltamos? Formaram só três?
Álcool acabou? Cloroquina pra quê?
Não vendo, submisso? Perco o freguês?
Ou saio de casa e pago o carnê?
Suspensas as missas? Live outra vez?
Vovó está bem? Ministro, cadê?
Ensino à distância? E a malhação?
Tanto ruído surta qualquer são
Faltam EPIs, pausa no internato
Sem prática a semio não se conserva
Esse branco é doença ou artefato?
Da clínica a imagem tem que ser serva
Sucatearam os labs de anato
Geme, tonta, a centenária Minerva
Mas toda sístole, Macaé luta,
Resiste e tenciona ousada conduta
Mestres e alunos com tantas certezas,
Que ao campus chamavam vida ordinária
Agora constatam quantas proezas
Há na jornada universitária
Se por ser no interior tu desprezas
Tua formação e teus pares, és pária
Novos horizontes, veros amigos
Muito mais valem que notas e artigos
E também as memórias gloriosas
Do entardecer laranja na Lagoa
Contemplado em companhias gostosas
Que a existência de esperança apregoa
Parem saudades. De frio até posas,
Mas pra avistares lar, corres à proa
É, afinal, a mão que se entrelaça
À nossa a mais sobeja e doce graça
Enlaçados, sim, sobreviveremos
A esta procelosa pandemia
Já ou depois, a morte vem. Cuidemos,
Pois, mui bem, de papai, mamãe e titia.
Rende, enfim, a Deus do teu barco os remos
Apartará o Amor a dor, confia.
Só unir sem reunir, em dose plena,
Poderá nos curar da quarentena.
Por Caroline Mignha Aben-Athar Fernandes
Junho de 2020
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