top of page
Buscar

ANALFABETISMO E MEDICAÇÕES EM PACIENTES IDOSOS: QUAL A RELAÇÃO?

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 29 de jul. de 2022
  • 4 min de leitura


Por Júlia Lourenço e Karine M. Corrêa

O número de idosos na população brasileira, com o aumento da expectativa de vida, cresceu 18% em 5 anos e ultrapassou 30 milhões em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante desse fato, sabe-se que essa parcela da população tem uma incidência aumentada de doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença de Alzheimer, e como estratégia terapêutica, fazem uso contínuo de diversos medicamentos. Contudo, fatores como deficiências visuais, incapacidade manual e o esquecimento fazem com que os idosos tenham dificuldade de manter um tratamento adequado. Além desses, outra fonte comum de vulnerabilidade e que acomete principalmente os idosos de classes sociais desfavorecidas é o analfabetismo.

Segundo o IBGE, em 2018, os idosos representavam 42,6% da população analfabeta no Brasil. É importante destacar que o analfabetismo é um fator que dificulta a compreensão do paciente acerca da forma correta de utilização dos fármacos, desde o entendimento das receitas médicas até a identificação dos medicamentos. Em decorrência disso, muitos são os casos de indivíduos que, durante o atendimento médico, são orientados a utilizar inúmeros remédios, contudo, ao chegarem em suas casas, não conseguem pôr em prática. Alguns empecilhos são observados quando consideramos o uso de medicamentos pelo idoso analfabeto: variação de nomes (comercial x genérico), diferentes cores e modelos de caixas de acordo com o laboratório fabricante, prescrição duplicada (especialmente quando avaliado isoladamente por diversos profissionais). Como consequência da dificuldade/uso incorreto das medicações, o tratamento não é eficaz e, caso o médico não se atente às vulnerabilidades daquele paciente, há o risco de associação de mais e mais fármacos na tentativa de compensar a doença. Todo esse processo é prejudicial à saúde desse paciente, além de frustrante para o idoso e para o profissional de saúde.

Assim, nota-se a importância de uma comunicação médico-paciente extremamente objetiva e, se necessária, lúdica, enfatizando também a necessidade de um apoio familiar nesse processo de cuidado. Considerando a primeira consulta com um paciente idoso, um passo essencial é avaliar o nível de compreensão e capacidade de leitura desse paciente. Se ele já faz uso de medicações, deve-se priorizar questionar como é esse uso - horário de tomada, se é em jejum ou com alimentos, dentre outros. Caso vá tomar novas medicações, ou o médico perceba

que há dificuldade em utilizar as já prescritas, uma nova abordagem deve ser considerada pelo profissional de saúde para melhor auxiliar o paciente.

Diante de um paciente em uso incorreto dos fármacos por dificuldade no entendimento, devemos considerar estratégias facilitadoras. Questionar o idoso se ele faz uso de algum método para organizar suas medicações é um ponto de partida, tendo em vista uma maior facilidade para fazer ajustes em um contexto já conhecido. De forma geral, a associação de elementos visuais é de mais fácil compreensão. Alguns exemplos são:

● Uso de caixas/potes de formatos e/ou cores distintas para armazenar as medicações, separadas por horário de uso;

● Prescrição pictográfica, que consiste na sinalização por meio de desenhos (ex: sol para os medicamentos a serem tomados pela manhã e lua para os da noite).

Ambas as estratégias demandam o auxílio de pessoas alfabetizadas para organização e, por isso, o envolvimento familiar é essencial, podendo contar, também, com o apoio da equipe de saúde - especialmente da atenção básica, na figura do médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde. No que tange ao apoio familiar, ressalta-se que a participação dos filhos no cuidado dos pais está estabelecida no artigo 229 da Constituição Federal, que prevê que “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.” Desse modo, a família deve ser convocada em auxílio ao paciente idoso que apresente dificuldades no autocuidado. Cabe salientar que, além disso, uma medida potencialmente importante de ajuda a esses indivíduos é a padronização das medicações e seus rótulos, que devem ser adotadas pela indústria farmacêutica, o que facilitaria muito a utilização dos mesmos por pacientes analfabetos.

Diante da amplitude desse tema, cabe aos profissionais de saúde avaliar seus pacientes para além da doença, considerando o contexto no qual está inserido e as suas especificidades. Além disso, quando consideramos os idosos, devemos nos atentar ao excesso de prescrições que, muitas vezes, causam malefícios para a saúde e segurança do mesmo. Rever as medicações em uso em todas as consultas, retirando medicamentos desnecessários, que não estejam agregando benefícios à saúde do paciente, deve fazer parte da rotina de atendimento dos médicos. No mais, o Estatuto do Idoso estabelece que assegurar os direitos dos idosos, incluindo à saúde, é obrigação da família, da sociedade e do poder público.

Referências:

Da Silva, CH; Spinillo, CG. Dificuldades e estratégias no uso de múltiplos medicamentos por idosos no contexto do design da informação. Estudos em design, v. 24, n. 3, 2016.

De Albuquerque, GSC et al. ADESÃO DE HIPERTENSOS E DIABÉTICOS ANALFABETOS AO USO DE MEDICAMENTO A PARTIR DA PRESCRIÇÃO PICTOGRÁFICA. Trabalho, Educação e Saúde [online]. 2016, v. 14, n. 2 [Acessado 10 Julho 2022] , pp. 611-624. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00112>. Epub 15 Abr 2016. ISSN 1981-7746.

Mascarenhas APF, et al. Estratégias para aumento da adesão ao tratamento medicamentoso por idosos com baixa escolaridade.

Brasil. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

PARADELLA, Rodrigo. Número de idosos cresce 18% em 5 anos e ultrapassa 30 milhões em 2017. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/no ticias/20980-numero-de-idosos-cresce-18-em-5-anos-e-ultrapassa-30-milhoes-em-20 17. Acesso em: 15 jul. 2022.

SILVA, Juliane Batista da. Terceira idade e medicação: compreensão da terapêutica medicamentosa por idosos não alfabetizados. Juliane Batista da Silva. Disponível em: https://revistas.mpmcomunicacao.com.br/index.php/saudecoletiva/article/view/11 45/1374. Acesso em: 15 jul. 2022.

SILVA, Luzia Wilma Santana da. Analfabetismo e declínio cognitivo: um impasse para o uso adequado de medicamentos em idosos no contexto familiar. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/view/4873/3460. Acesso em: 15 jul. 2022.


 
 
 

Comments


Post: Blog2_Post

Formulário de inscrição

Obrigado(a)

©2020 por Jornal A Sístole. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page