ACIDENTES DOMÉSTICOS – O PERIGO EVITÁVEL!
- Jornal A Sístole
- 8 de jul. de 2021
- 5 min de leitura

Por: Ingryd Toneti e Stella Benjamin
Segundo o levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, a principal causa de óbito de crianças de 01 a 14 anos, no Brasil, são os acidentes. Destes, 111 mil hospitalizações são causadas por acidentes domésticos, sobretudo quedas e queimaduras, o que se torna um sinal de alerta especialmente neste período de isolamento social e aumento da permanência em domicílio. Outro grupo que se deve estar atento são os idosos pois, segundo dados da USP, neste período de pandemia, o número de quedas chegou a 30%.
A boa notícia é que, segundo a pediatra Ana Escobar, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP, 90% desses acidentes poderiam ser evitados com simples adaptações, o que também reduz o número na busca por atendimento ambulatorial que já se encontra exacerbado por atendimentos à infecção pelo novo Coronavírus. Sendo assim, o Jornal “A Sístole” reuniu algumas dicas para auxiliar os responsáveis a manter seguro o ambiente doméstico e consequentemente, os mais vulneráveis.
Com relação às crianças:
Queimaduras: A cozinha é o local da casa de maior risco para esse tipo de acidente, deve-se então realizar medidas de bloqueio de acesso, como a instalação de portões e, caso não seja possível, os adultos devem priorizar a utilização dos terminais de trás do fogão. Além disso, deve-se atentar à manipulação de produtos inflamáveis como álcool, que tem sido utilizado em larga escala neste período.
Traumas: Evite que a criança tenha contato com brinquedos ou objetos pesados que pode deixar cair sobre si. Descarte a utilização de toalhas de mesa que favoreçam que a criança puxe sobre ela objetos que estejam apoiados e também vale frisar a instalação de protetores de quinas. Além disso, é importante mantê-las fora do alcance facas, tesouras e outros objetos cortantes.
Afogamentos: Sempre acompanhe a criança em banhos de piscina, mar ou qualquer lugar com reserva de água, incluindo banhos de banheira ainda que a porção de água seja pequena (2,5 cm já são suficientes para induzir afogamentos). Se houver piscinas em domicílio, estas devem conter rede de proteção.
Quedas: Não permitir que uma criança pegue no colo outra menor. Sempre utilizar o cinto de segurança quando a criança estiver no “bebê conforto” ou cadeirinha. Quando a criança estiver no trocador, cama ou outros locais que ofereçam altura, ela deve estar sempre acompanhada de um adulto que, de preferência, deve ter as fraldas à mão previamente. Atenção especial às beliches que devem ter instaladas grades de proteção. Assegure-se de que os espaços entre as barras do berço ou cercadinho são adequadas. Deve-se instalar grades ou telas de proteção em janelas e varandas e quando não for possível, que seja vedado o acesso da criança a esses locais. Por fim, deve-se bloquear também com grades o acesso a escadas.
Sufocação: Sacos plásticos, travesseiros, fios longos, cordões ou gravatas podem favorecer asfixia ou estrangulamentos. Não permita a manipulação de brinquedos pequenos ou que levem objetos à boca, como bexigas, pois podem ser engolidos ou aspirados. Os pais devem testar os brinquedos previamente, a fim de verificar se estes soltam peças menores que também podem ser ingeridas ou provocar engasgos.
Choques elétricos: Lançar mão de protetores de tomadas que estejam à altura da crianças. Os fios também são sinal de alerta e devem permanecer fora do alcance.
Intoxicação: Crianças entre 1 e 5 anos possuem o hábito de levar objetos à boca como parte de seu desenvolvimento e reconhecimento do ambiente, sendo assim, deve-se armazenar materiais de limpeza e remédios em prateleiras altas ou instalar travas nas portas onde estiverem guardados. Não permita que bebidas alcoólicas estejam em locais de fácil acesso. Evite ingerir remédios na presença de crianças. Tenha sempre acesso a números de telefone de Centros de controle de intoxicação ou do pediatra responsável para receber instruções em caso de ingestão.
Com relação aos idosos:
Um grande problema é a ocorrência de quedas e suas consequências, tanto temporárias como permanentes, que acabam impactando negativamente a qualidade de vida dos idosos e de seus familiares. Essas quedas, por sua vez, são decorrentes da interação de:
- Fatores intrínsecos: relacionados ao próprio envelhecimento, como diminuição da força muscular, equilíbrio e flexibilidade, lentidão dos reflexos, deficiências nutricionais (falta de vitamina D), mobilidade reduzida e balanço, entre outros;
- Fatores extrínsecos: relacionados ao ambiente que os idosos vivem, como iluminação deficiente e inadequada nos ambiente durante a noite e, às vezes, durante o dia; superfícies irregulares, molhadas e pisos escorregadios; objetos em área de circulação, tapetes soltos; fios e equipamentos colocados de forma inadequada; móveis instáveis, camas altas, mesas com bordas pontiagudas, sofás, cadeiras e vaso sanitário baixo, prateleiras de difícil alcance; uso de calçados ou chinelos em más condições ou mal adaptados aos pés e com solado escorregadio; bengalas, andadores inadequados e mal adaptados; desníveis no chão/ problemas com degraus; ausência de barras de apoio e corrimões, quedas da própria altura: cadeiras, cama, sofá, banheiro, escada, e outros.
- Fatores comportamentais: relacionados à faixa etária mais elevada, como o uso de prótese, uso de vários medicamentos, consumo de álcool, medo de cair, inatividade física; uso inadequado de tecnologia para locomoção; má nutrição ou hidratação; uso de calçado impróprio; participação em atividades comunitárias.
Esses dois últimos são fortemente relacionados em até metade de todas as quedas, por isso é importante atuar na adequação do ambiente e evitar comportamento de risco.
Por isso, recomenda-se como medidas básicas de prevenção dos fatores extrínsecos: portas e corredores devem ter os cuidados que seguem: largura de passagem maior (para cadeirantes, mínimo de 80 cm); evitar desníveis no piso na troca de um ambiente para o outro; maçanetas (alavanca) e trincos adequados; interruptores de luz próximos da entrada do ambiente; passagens bem iluminadas; fechadura da porta sobre a maçaneta; trincos de segurança deslizantes; desníveis sempre devem ser vencidos por rampa. Armários e outros utensílios devem estar na altura dos olhos; é recomendável um banco para calçar sapatos e executar pequenas tarefas de forma mais confortável.
Cuidados nos sanitários: preferencialmente, utilizar pisos antiderrapantes e evitar tapetes soltos; utilizar sempre barras de apoio próximo da bacia sanitária, do lavatório, do chuveiro, da banheira e outros móveis sempre que necessário; largura mínima do box: 80 cm. desnível mínimo de 1,5 cm em relação ao piso do banheiro; suporte corrimão lateral/barras de apoio com alturas variáveis.
Se ainda assim ocorrer um acidente doméstico, é essencial buscar ajuda, levando a criança ou idoso ao pronto socorro ou contatando o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Evidencia-se que essas medidas visam adaptar o domicílio à estadia durante o isolamento social e, portanto, não devem ser abandonadas ou desencorajadas, pois são imprescindíveis no contexto do combate à pandemia.
REFERÊNCIAS
HEHUEN NETO, J. A., Freire, Mariana Rodarte, Tavares, Paula Liziero, Brum, Igor Vilela, Ferreira, Renato Erothildes, Silva, Rafael Teixeira Costa, Gomes, Gislaine Fernandes, Braga, Nícolas Augusto Coelho . Percepção sobre queda e exposição de idosos a fatores de risco domiciliares. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2016/Jun). [Citado em 24/05/2021]. Está disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/percepcao-sobre-queda-e-exposicao-de-idosos-a-fatores-de-risco-domiciliares/15712?id=15712&id=15712
CABERLON, Iride C., QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS NO BRASIL. Disponível em: https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2019/08/1564667261_QUEDAS_EM_PESSOAS_IDOSAS_NO_BRASIL-1.pdf
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