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A Sístole Convida: Nutricionismo

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 10 de jan. de 2023
  • 2 min de leitura

 

Autora convidada: Júlia de Paula Brando



Segundo o pesquisador australiano Gyorgy Scrinis, o termo nutricionismo (fusão das palavras nutrição e reducionismo) consiste em um foco restrito ao nutriente, em sua maioria ao nutriente único, desconsiderando a interação entre nutrientes, a qualidade do alimento em si e a combinação entre alimentos que caracterizam um padrão alimentar. Em outras palavras, esse paradigma visa uma ênfase reducionista nos nutrientes de um alimento para categorizá-lo como bom ou ruim e, dessa forma, recomendar ou depreciar  o seu consumo. Outrossim, nutrientes únicos são vistos de maneira fragmentada, presumindo-se resultados específicos sobre a saúde, independente dos outros nutrientes ou dos alimentos usualmente combinados. De acordo com Scrinis, há uma descontextualização da compreensão sobre os nutrientes, cujo papel tem sido visto de maneira isolada dos alimentos, dos padrões alimentares e dos contextos sociais ampliados. Além disso, essa ideologia molda a forma como o público leigo entende e experimenta a alimentação, sem que haja a percepção deles. Nessa perspectiva, Scrinis nomeia essas pessoas como sujeitos nutricêntricos, que se identificam e respondem a essa ideologia de variadas formas, influenciando a compreensão do próprio corpo e a experiência com os alimentos, além de eliminar outras formas de conhecer e de se envolver com os alimentos. Ao estudar o nutricionismo mais a fundo, o autor identifica três momentos históricos distintos: o primeiro deles seria o nutricionismo quantitativo, presente até a década de 60, que consistia em buscar descobrir a quantidade necessária de nutrientes que as pessoas precisavam para não se obter doenças. O segundo momento diz respeito ao nutricionismo bom vs ruim, com início na década de 60, de modo que surgem os nutrientes classificados como ruins e que, portanto, deveriam ser evitados ou retirados da alimentação com o propósito de reduzir e evitar doenças. Por fim, a terceira fase, que começa na década de 90 e continua até os dias atuais, recebe o nome de nutricionismo funcional, visto que a atenção muda para o nutriente bom, capaz de otimizar o corpo. Para mudar o pensamento reducionista, Scrinis propõe o foco no alimento e no padrão alimentar, valorizando o conhecimento cultural e tradicional e priorizando a qualidade da produção e do processamento dos alimentos, levando em conta o Guia Alimentar para a População Brasileira. Para entender mais a fundo a ideologia do nutricionismo e como ela nos orienta a ver a comida como um arranjo de nutrientes isolados, indico o livro “Nutricionismo: a ciência e a política do aconselhamento nutricional”, do australiano Gyorgy Scrinis.

 

 

Fonte:

 

SCRINIS, G. Nutricionismo: a ciência e a política do aconselhamento nutricional. (Tradução: Juliana Leite Arantes). São Paulo: Editora Elefante, 2021.

 
 
 

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