A Sístole Convida: Lilian Barreto
- Jornal A Sístole
- 16 de ago. de 2022
- 6 min de leitura

Mediado por Wallace Soares
Sobre a convidada:
Lilian Barreto, biomédica pela Universidade Federal de Alfenas e aluna de mestrado no Programa de Pós-graduação em Urologia na Universidade Federal de São Paulo/EPM. Atua também como embriologista no Mater Lab.
Que dicas você daria para quem deseja manter a saúde reprodutiva?
Nos dias atuais, é difícil se isolar de todos os fatores que prejudicam, de alguma forma, a fertilidade. Contudo, é fundamental cultivar bons hábitos não só em prol da saúde reprodutiva, mas também da saúde como um todo!Manter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas, beber água, ter boas noites de sono e cuidar da mente são atitudes básicas que fazem toda a diferença!
Além disso, é muito importante se consultar com ginecologistas e urologistas para a realização de exames periódicos com o intuito de avaliar a saúde reprodutiva. Para aqueles que pretendem adiar a maternidade/paternidade, ou ainda não têm certeza sobre suas escolhas, esses profissionais também podem oferecer opções como a criopreservação de gametas.
Como a má alimentação e o sedentarismo podem afetar a fertilidade?
Alterações no peso dos pacientes – para mais ou para menos – são fatores que afetam a fertilidade, ou seja, dietas hipercalóricas e gordurosas são tão prejudiciais quanto dietas restritivas que levam a carências nutricionais.
Em casos diagnosticados de subfertilidade, isto é, quando a chance de gravidez existe, mas é muito mais baixa quando comparada à população normal, pode-se incluir na dieta alimentos ricos em zinco e ácido fólico, por exemplo. Já pacientes obesos podem aumentar as chances de gestação com dietas específicas e a prática de exercícios físicos.
Para manter bons hábitos é necessário também reduzir - ou eliminar - a ingestão de cafeína, além do fumo e álcool. Dormir bem, cuidar do bem-estar mental e não se sobrecarregar também ajudam a cultivar a saúde!
O sedentarismo afeta as mulheres causando alterações no ciclo menstrual, o que pode inibir a ovulação e prejudicar a fertilidade. Nos homens, os maus hábitos podem prejudicar a qualidade e o número de espermatozoides, além de afetar a libido e ocasionar disfunção erétil.
Quais os efeitos da obesidade nas funções reprodutoras masculina e feminina?
A obesidade é um acúmulo de gordura corporal anormal ou excessiva que traz consequências negativas para a saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 39% dos adultos no mundo estão com sobrepeso e 13% são obesos. Riscos cardiovasculares, diabetes e outros problemas de saúde são comuns em pacientes obesos e, além disso, em 12% dos casos de infertilidade se observam alterações de peso no paciente.
Nas mulheres, ocorre inibição da ovulação e da menstruação, além de um estado inflamatório de baixo grau nos tecidos reprodutivos, ocasionado pelo excesso de ácidos graxos livres e uma decidualização estromal prejudicada. Além disso, observamos alterações nos gametas femininos, bem como no embrião pré-implantação, aumento de falhas da reprodução assistida e aumento da leptina, o que afeta a produção de hormônios e o desenvolvimento embrionário.
Nos homens, observamos a queda dos níveis de testosterona e redução da concentração de espermatozoides,bem como déficit no grau da motilidade espermática. Para além disso, presume-se que o aumento da temperatura testicular criado pelo panículo adiposo do púbis e do cordão inguinal, associado ao estresse oxidativo, aumenta os níveis de fragmentação de DNA espermático em pacientes obesos.
Como o envelhecimento prejudica as chances de uma gestação natural?
Atualmente, pelo menos 20% das famílias esperam a estabilidade financeira, profissional e emocional para planejar um bebê, o que tem contribuído para que a taxa de fecundidade diminua. Muitos ressaltam sobre como a idade materna avançada prejudica as chances de uma gestação tanto de forma natural, como em tratamentos de reprodução assistida. Contudo, a idade paterna avançada é tão prejudicial quanto!
Nos homens, o avanço na idade contribui para a piora na qualidade das células reprodutivas, causando, sobretudo, aumento na incidência de espermatozoides com DNA fragmentado ou com menos mobilidade. Além disso, é consenso entre pesquisadores que quanto mais velho o pai, maior as chances de transmitir alterações no genoma para os filhos. Em síntese, os estudos recentemente publicados observaram que a idade paterna avançada causa uma piora dos parâmetros seminais, acúmulo de danos na cromatina espermática, aumento de mutações, quedas nos resultados da fertilização in vitro e efeito negativo na saúde da prole.
Nas mulheres, primeiro precisamos entender que a produção dos folículos ovarianos acontece durante a gestação e sua quantidade sofre um declínio ao decorrer da vida. Além disso, o envelhecimento dos gametas femininos resulta em maiores chances de anormalidade cromossômicas e risco maior de abortos espontâneo. Dentre as principais consequências do envelhecimento aos oócitos, podemos citar: alterações no fuso meiótico, redução na quantidade de quiasmas/coesinas, aumento nas espécies reativas de oxigênio, danos ao DNA mitocondrial e encurtamento dos telômeros.
Como o álcool pode afetar a fertilidade?
Cerca de 50 a 90% da população mundial já teve algum contato com o álcool: são adeptos do “etilismo social”, ou seja, independente do padrão de ingestão de bebidas alcoólicas, não apresentam indicação, ou sugestão de dependência associadas ao uso de álcool.
Porém, os riscos à fertilidade ainda existem! Tomar uma garrafa de vinho ou 5 doses de outra bebida por semana podem reduzir em até 40% as chances de gestação. Além disso, há um efeito negativo no desejo sexual.
Nas mulheres, podemos observar o funcionamento inadequado dos ovários e alterações nos níveis hormonais, o que causa irregularidades nos ciclos menstruais. Além disso, há o aumento dos riscos de abortos espontâneos e alterações no transporte dos gametas pelas tubas uterinas.
Nos homens, observamos o funcionamento inadequado dos testículos com redução dos níveis de testosterona, o que traz como consequência disfunção erétil e alterações na qualidade e motilidade dos espermatozoides.
Como o tabagismo pode afetar a fertilidade?
Diversos são os prejuízos à saúde causados pelo cigarro, que são responsáveis pela morte de 2 em cada 3 fumantes. A fumaça do cigarro também influencia negativamente na saúde daqueles que não fumam, mas convivem com fumantes. Aproximadamente, 23,4% dos homens e 20% das mulheres brasileiras são fumantes e destes, cerca de 30% estão em idade reprodutiva. Além de diminuir a fertilidade, o tabaco também pode prejudicar os resultados em Reprodução Assistida.
Nas mulheres, o tabagismo é responsável por 14% dos casos de infertilidade feminina. Ele causa a diminuição do nível de estrogênio e da reserva ovariana, além da ausência da menstruação, diminuição da taxa de ovulação e menopausa precoce. Também favorece a formação de oócitos com alterações genéticas e diminui a mobilidade do embrião nas trompas, impedindo-o de chegar ao útero. Precisamos, também, ressaltar que a fumaça do cigarro possui diversas substâncias que interferem na divisão do embrião e que a nicotina diminui a irrigação da placenta: descolamento, aborto, ou menor crescimento fetal. Ademais, o cigarro aumenta o risco de partos prematuras e consequências para o bebê.
Nos homens, por sua vez, observamos espermatozoidescom motilidade, concentração, morfologia reduzida e outras alterações seminais como piospermia (pus no líquido seminal) e diminuição na quantidade de protamina, uma proteína responsável pela formação dos cromossomos durante a fecundação. Além disso, o tabagismo gera um aumento de espécies reativas de oxigênio (EROs), que podem causar fragmentação do DNA: diminuição da taxa de fecundação e aumento da incidência de abortos.
Quais os principais efeitos do uso de drogas ilícitas no sistema reprodutor humano?
As drogas ilícitas são substâncias naturais ou sintéticas que modificam as funções do organismo, causando diversas consequências. As drogas naturais são obtidas de determinadas plantas, animais ou minerais, como a maconha, a cocaína, o ópio, o éter e o LSD/cogumelos; já as sintéticas são produzidas em laboratório, como as anfetaminas, os anabolizantes, a morfina, a codeína, o ecstasy e a heroína.
Estudos indicam que cerca de 18% da população terá um transtorno por uso dessas substâncias em algum momento da vida. O uso de drogas pode causar problemas irreversíveis no sistema reprodutor de ambos sexos, com atuação localizada nas gônadas.
Nas mulheres, podemos observar a redução da qualidade e da quantidade dos óvulos (oócitos), irregularidade nos ciclos menstruais, bloqueio da ovulação, distúrbios hormonais, diminuição do tamanho dos seios e até mesmo o aparecimento de pelos faciais e alterações na voz no caso do uso de anabolizantes.
Já nos homens, o uso de drogas ilícitas diminui o tamanho e prejudica o funcionamento dos testículos, aumenta o tamanho da próstata, causa alterações hormonais, aumenta a chance de disfunção erétil e desenvolvimento de mamas e reduz a capacidade de defesa do organismo. Além disso, essas drogas atuam diretamente na linhagem germinativa, o que leva à formação de espermatozoides anormais, reduz o potencial de fertilização e aumenta o estresse oxidativo, resultando na fragmentação do DNA espermático.
A Equipe A Sístole agradece à Lilian Barreto pela disponibilidade e confiança em nosso trabalho!
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