A Sístole convida: Jackeline Huguet
- Jornal A Sístole
- 4 de mai. de 2022
- 5 min de leitura

mediado por Orlando Dias Canichio e Gabriella Berto
Sobre a convidada
Nutricionista Clínica, formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1999. Pós-Graduação com foco em docência do Ensino Superior, fitoterapia aplicada à Nutrição Clínica e Nutrição Esportiva. Associada ao Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional e à Sociedade Vegetariana Brasileira. Pós-graduanda em Nutrição Integrativa pela Plenitude Educação e capacitanda em Nutrição Comportamental pelo Instituto de Nutrição Comportamental. Atua há 20 anos em consultório e clínicas particulares com atendimento individualizado a pessoas de todas as idades, gestantes, atletas, vegetarianos e veganos, além de diversas patologias e em prevenção relacionada à alimentação e saúde. Palestrante em universidades, escolas, empresas e idealizadora dos projetos @nutriclub, @emtravessia e @aescoladosnutris. Já trabalhou com cerca de 11 mil pacientes.
Dia da Saúde e da Nutrição
“No dia 31 de março, celebra-se a Saúde e a Nutrição - área cada vez mais esquecida na atualidade global, caracterizada pelo aumento do consumo de alimentos industrializados e pela disseminação das famosas redes de fast food. Nesse contexto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha os governos e órgãos públicos a formularem e atualizarem diretrizes nacionais voltadas para a alimentação, acompanhando os avanços científicos, a fim de apoiar a educação alimentar e subsidiar programas voltados ao tema.
Nem mesmo a alimentação fugiu das fake news: diariamente ouvimos e assistimos a influenciadores digitais ou "especialistas" trazendo soluções rápidas, fáceis e promissoras. Porém, será que realmente vale a pena segui-los? Além disso, as redes sociais também aumentaram a pressão pela busca do corpo “perfeito”, fazendo com que as pessoas se submetam a diversos parâmetros os quais geralmente não são adequados e, ainda, podem ser capazes de gerar mais angústia e tristeza para quem os acata.”
IMC e índices corporais
Isoladamente, o Índice de Massa Corpórea (IMC) não é um parâmetro ideal de avaliação de indicadores de saúde, uma vez que não permite avaliar dados de gordura corporal do indivíduo. Um ótimo exemplo é avaliarmos dois indivíduos de mesmo sexo, idade, altura e peso, portanto, com o mesmo IMC, porém, um apresentando 20% de gordura corporal e, o outro, 40%.
Na impossibilidade de realizar uma avaliação física com dobras cutâneas e bioimpedância, o dado mais relevante, como indicador de saúde, seria acrescentar a circunferência da cintura, já que o acúmulo de gordura na região central é relevante para essa análise.
Alimentação da população brasileira
“Acredito que em poucos países do mundo a população saiba se alimentar da melhor forma, contudo, aqueles que perderam a identidade cultural com a alimentação, transicionando para uma refeição industrializada e baseada em padrões americanizados são os que mais sofrem com erros e informações, levando ao terrorismo nutricional, além de perder o contato com sinais de fome e saciedade induzidas por um estilo de vida voltado 100% para a produtividade.”
Entretanto, países como França e Itália, que mantêm uma relação cultural entre a comida e o estilo de vida, a qual abrange não só bons hábitos alimentares, mas também a qualidade do que compram (orgânicos de produtores locais, por exemplo). Fora isso, a inclusão de atividades físicas regularmente na rotina proporciona melhores indicadores de saúde, peso e qualidade de vida.
Para quem quiser saber mais sobre o assunto, sugiro o livro Epopeia da comida.”
São muitos parâmetros para avaliar os hábitos nutricionais, dentre eles:
Qualidade, quantidade e variedade no consumo alimentar;
Frequência no consumo de alimentos ultraprocessados;
Nível de energia, qualidade do sono e função intestinal.
A influência da mídia na alimentação
“Vivemos em um mundo completamente conectado, portanto, com acesso ao marketing em sua forma mais agressiva, sendo que o mercado do bem-estar é um dos mais lucrativos atualmente. Estamos muito envolvidos por uma propaganda cruel e enganosa, quase sempre, sem qualquer dado científico de relevância.”
O progresso da ideologia neoliberal avança também sobre os nossos corpos, aproveitando-se das angústias individuais e ditando padrões/regras, a fim de se obter ganhos a qualquer custo. Diariamente, somos bombardeados por publicidades de equipamentos essenciais para o emagrecimento, ou drogas milagrosas que secam o corpo em poucos dias.
Para quem quiser saber mais sobre o assunto, sugiro o livro Uma Verdade Indigesta.
Dietas low carb, cetogênica, jejum intermitente e outras: valem a pena?
“O que eu realmente acredito é na mudança de estilo de vida de forma definitiva. Todos os outros formatos podem até ter uma outra aplicação específica, mas para a saúde, em seu sentido mais amplo, deve haver mudanças de comportamento, nas emoções, no padrão de sono, nas escolhas e, principalmente, nas renúncias.”
Portanto, dietas da moda ou protocolos extremamente restritivos podem até funcionar por curto período, mas impulsionam cada vez mais o reganho de peso, criando um ciclo eterno de frustrações e doenças.
A demonização e supervalorização dos alimentos
“Complexo até para nós, profissionais da área. Há toda uma grande indústria que induz e fomenta essa prática. Precisamos estar atentos e alertas à qualidade do material científico que norteia nossa prescrição. Não acredito em alimentos com superpoderes, já que nosso corpo funciona de forma sinérgica entre nutrientes, com suficiência, sem excessos e sem deficiência.
Para quem quiser saber mais sobre o assunto, sugiro o livro Nutricionismo.”
Emagrecimento saudável e leve: é possível?
“A obesidade é uma doença multifatorial e bastante complexa para resumir em resultados de emagrecimento baseados em força, foco e fé…”. Já foram identificados mais de 430 genes e diversos outros marcadores genéticos relacionados à obesidade, além da atuação dos disruptores endócrinos, que apresentam relação documentada com essa doença e transtornos metabólicos, com associação ao estilo de vida sedentário, estresse crônico e péssimos hábitos alimentares tanto em qualidade quanto em quantidade.
Uma atuação multidisciplinar tem sido a proposta mais eficaz para o tratamento e controle da obesidade e suas repercussões. Profissionais da saúde, como nutricionistas, médicos e psicólogos, em parceria com profissionais de educação física, são os pilares da mudança em toda uma rede que alimenta essa doença.
“Com certeza muito mais que absoluta é possível emagrecer de uma forma tranquila! Só temos que avaliar se os ‘resultados esperados’ são utópicos, ou baseados em padrões estéticos compatíveis com o indivíduo em questão.”
O papel do nutricionista na busca por uma alimentação saudável
“Minha forma de entender a saúde é a integrativa, logo, o papel do Nutricionista começa com o acolhimento, a escuta ativa, uma coleta abrangente de informações sobre as preferências alimentares, uma orientação ampla de estilo de vida (envolvendo o sono, memória, energia, função digestiva, entre outros) e, só então, a orientação alimentar propriamente dita, com condutas e metas que realmente façam sentido e caibam na vida do indivíduo.”
Assim, esse profissional, a partir de uma visão geral sobre o paciente, buscando entender o que ele realmente quer alcançar, atua, viabilizando meios saudáveis e que melhor encaixem para o padrão do indivíduo. Desde o emagrecimento até o ganho de massa corpórea, é fundamental o acompanhamento desse profissional da saúde, já que este é o melhor capacitado e habilitado para esse auxílio.
A Equipe A Sístole agradece à Jackeline Huguet pela disponibilidade e confiança em nosso trabalho.
Referências
Associação Brasileira de Nutrição & Ministério da Saúde. 31/3 – Dia da Saúde e da Nutrição | Biblioteca Virtual em Saúde MS. Biblioteca Virtual em Saúde. https://bvsms.saude.gov.br/31-3-dia-da-saude-e-da-nutricao/
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