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A SAÚDE É POP?

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 21 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura


Autor convidado: Artur Valladares

Preto e acadêmico de Medicina do 7º período da UFRJ Macaé


Em 2016, uma celebridade do mundo pop desenvolveu e lançou um produto audiovisual que trazia em si sua experiência pessoal e sua trajetória familiar. Não seria nada de novo dado que grande parte do fazer artístico trata também de ressignificar acontecimentos e torná-los, entre outras coisas, produtos culturais. No entanto, a grande surpresa e a comoção que “Lemonade” gerou foi significativa para a época e, infelizmente, não foi só pela qualidade apresentada. Nele, ao tratar, reler e reinterpretar suas experiências enquanto sujeito em uma sociedade, ela trouxe para si referências populares em sua cultura sobre sua ancestralidade, hábitos, afetos e sexualidade. E, ao trazê-los para o grande mercado cultural mundial, trouxe à luz um corpo negro, feminino, que emerge da ressignificação de uma cultura negra que dá a ele beleza, importância social e que o humaniza.


Voltemos nossa atenção para esse corpo negro ao longo da história da colonização das Américas e, posteriormente, quando da abolição da escravatura e mudança no paradigma da produção econômica escravista, que após perder forçosamente seu objeto principal de produção de capital, o corpo da pessoa negra, é abandonado à própria sorte. Há aqui a marginalização que marcará a população negra em toda a sua trajetória, amparada culturalmente pela ideia da não humanidade das pessoas negras construída, inclusive, por formulações religiosas. Num outro momento, já no final do século XIX e início do século XX, o que estrutura a leitura social e da saúde sobre a pessoa negra será o eugenismo, para o qual ao corpo negro traz em si constitucionalmente a miséria, a doença, descendendo dele as mazelas que afligiam a sociedade brasileira da época.


Pode-se observar aqui a ação de determinantes históricos no que tange a população negra e o quanto estes atuam deleteriamente para a saúde dessa população sob vários aspectos. Primeiramente, essa população não acessará saúde, posto que esteve, e ainda está, a margem dos processos socioeconômicos, não tendo, portanto, condições materiais. E num outro momento, a saúde que existia não era concebida para seus corpos mas através deles, enquanto maioria dos cadáveres nas escolas de medicina.


Assim sendo, apesar da bem-vinda Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), ainda há toda uma enorme transformação a ser empreendida por todas e todos para que haja uma real e efetiva atenção à saúde dessa população. Porém, lembrando do primeiro parágrafo, estamos a caminho.


REFERÊNCIAS

JOHNSON, Fleury. Estudante negro de medicina faz relato chocante sobre o Brasil. Portal Geledés, 02 de Agosto de 2016. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/estudante-negro-de-medicina-faz-relato-chocante-sobre-brasil/>.

VARELLA, Drauzio. Não existe exceção para direitos fundamentais. 2020. (1h06m45s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CfDkpXMZQjM>.

 
 
 

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