A prática de exercício físico e a neuroplasticidade em adultos
- Jornal A Sístole
- 10 de nov. de 2022
- 2 min de leitura

por Lívia Torres e Cibele Loiola
É de conhecimento geral que a realização de atividade física proporciona uma série de benefícios aos praticantes, com melhoras físicas, psicológicas e emocionais. Entretanto, as vantagens da prática de exercícios vão muito além disso, podendo atingir resultados mais complexos a ponto de alcançar o principal órgão do corpo: o cérebro, por meio da plasticidade neuronal.
A plasticidade neuronal se refere às mudanças estruturais e funcionais no Sistema Nervoso Central (SNC) decorrentes de experiências e estímulos. Essas modificações podem se dar de diferentes formas, como por meio do nascimento de novos neurônios (neurogênese), do remodelamento de sinapses ou de alterações funcionais nas células neuronais. A neuroplasticidade é comum em crianças, já que o SNC ainda está se desenvolvendo durante a infância. Porém, esse processo pode ocorrer em adultos, como forma de adaptação em função de experiências ou tentativa de regeneração.
Algumas áreas estão mais suscetíveis à neuroplasticidade, a exemplo do hipocampo. Mais especificamente, a zona subgranular do giro denteado dessa região é o local onde ocorre a proliferação e a diferenciação celular. Os neurônios imaturos dessa zona migram para a outra camada do giro denteado, a camada granular, onde passam por um processo de maturação e de integração à circuitaria neuronal. A neurogênese hipocampal adulta é regulada por fatores genéticos, fisiológicos, comportamentais e patológicos. Enquanto o estresse e o envelhecimento regulam negativamente o processo, a prática de exercícios físicos é um dos agentes reguladores positivos da neurogênese.
Além de modificações estruturais, a atividade física influencia também no fortalecimento e remodelamento de sinapses já existentes. Isso ocorre por meio da potencialização ou depressão da resposta sináptica, ou do aumento de proteínas e fatores de transcrição importantes para a sobrevivência neuronal. Dessa forma, há melhora na atividade sináptica e, consequentemente, da função hipocampal.
Ainda segundo o neurocirurgião, professor e pesquisador da UFRJ, Dr. Paulo Louzada, a musculação gera um aumento da frequência cardíaca, o que eleva o fluxo sanguíneo não só para os músculos, mas também para o cérebro. Dessa maneira, essa atividade física promove maior oxigenação cerebral. Dito isso, sabe-se que um cérebro mais oxigenado tem maior capacidade de neuroplasticidade, de estabelecer novas conexões e de formar novos neurônios, principalmente no hipocampo (região envolvida com a memória).
Além disso, a prática da musculação é feita sob rigorosa supervisão e estimula o cerebelo, responsável pela coordenação motora, bem como aumenta a atividade hipocampal. Assim, memórias declarativas e não-declarativas são estimuladas com a prática da musculação.
Por fim, ainda é possível falar sobre o exercício físico (EF) como estratégia terapêutica, dessa maneira, uma extensa pesquisa sugere a importância dessa prática para a saúde corporal e para a função cognitiva. O EF pode ser considerado um tratamento não farmacológico capaz de reduzir o risco de diversas doenças, incluindo o acidente vascular encefálico, a hipertensão, a demência e os transtornos de humor, como a depressão. Sabe-se, ainda, que a prática regular da atividade física resulta em adaptações orgânicas, decorrentes de alterações metabólicas, endócrinas e neuro-humorais, responsáveis pela melhora não só da saúde física, como da saúde mental, sendo capaz de aumentar o aprendizado e a memória, podendo, inclusive, retardar déficits cognitivos ocasionados pelo envelhecimento.
Referências bibliográficas:
Nascimento Castro, C. de P., Gil-Mohapel, J., & S. Brocardo, P. (2017). EXERCÍCIO FÍSICO E NEUROPLASTICIDADE HIPOCAMPAL: REVISÃO DE LITERATURA. VITTALLE - Revista De Ciências Da Saúde, 29(2), 57–78. https://doi.org/10.14295/vittalle.v29i2.7461
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