A NOMOFOBIA NOS TEMPOS ATUAIS
- Jornal A Sístole
- 17 de mar. de 2022
- 4 min de leitura

Autoras: Júlia Lourenço e Luisa Erthal
Provavelmente você nunca ouviu falar de "Nomofobia", mas com certeza conhece inúmeras pessoas que são viciadas em celular. Dia 10 de março é celebrado o “Dia mundial do telefone” e, o que antes costumava ser um aparelho utilizado por poucas pessoas e somente para algumas ligações, mais de 100 anos após o seu surgimento, tornou-se um pertence tão essencial que existem indivíduos com um transtorno psicológico desenvolvido quando afastados desse eletrônico; é a chamada nomofobia, com base na expressão "no-mobile", que significa “sem celular”.
O primeiro aparelho celular que, além de fazer ligações, era considerado multifunções foi criado em 1992 pelo americano Frank Canova. O dispositivo em questão enviava e-mails, possuía calendário, calculadora e bloco de notas, sendo considerado, na época, o “aparelho do futuro”. Apesar do modesto sucesso de vendas - o dispositivo vendeu somente 50 mil unidades - o espaço foi se ampliando para aparelhos similares. Em 2000, mais empresas já iniciavam o incremento das funcionalidades dos celulares. Surgiu o Motorola V3, um absoluto sucesso, vendendo mais de 130 milhões de unidades ao longo de sua história.
Qual adolescente dos anos 2000 nunca sonhou com um motorola V3?
Em 2007, o mundo da tecnologia sofreu uma revolução com a chegada do primeiro Iphone ao mercado. Em um momento no qual a indústria era composta principalmente por aparelhos com teclado físico, o “touchscreen” mudou a forma como as pessoas se relacionavam com os seus celulares. Começava, então, uma corrida das gigantes de tecnologia por uma fatia do mercado de smartphones. Em 2008, surgiu o primeiro aparelho com o sistema Android e, em 2010, a Samsung lançou o primeiro celular Galaxy.
As funções desses aparelhos vêm aumentando exponencialmente ao longo dos anos e, principalmente na pandemia da Covid-19, os celulares tornaram-se, para muitos, uma ferramenta ainda mais utilizada no trabalho, nos estudos e, até mesmo, na vida social. Os smartphones são cada vez mais necessários para o nosso dia a dia, seja para conexões com familiares e amigos ou para o desenvolvimento de atividades no trabalho. Um lado extremamente negativo do aumento do uso dos celulares, no entanto, só começou a ser observado recentemente: a dependência dos celulares, isto é, a nomofobia, a qual se caracteriza por uma angústia frente à separação do indivíduo do celular. Assim, a pessoa se sente ansiosa e impulsionada a buscar o aparelho e se atualizar sobre as novidades disponíveis.
Mas você sabe porque o uso excessivo de celular pode provocar dependência?
Toda vez que uma notificação entra no nosso sistema sensorial, ela é processada primeiro pela parte cerebral primitiva que busca informações sobre possíveis ameaças, cuja principal função é nos proteger do meio externo. No caso do conteúdo dos smartphones, nossos olhos e ouvidos percebem a informação nova e mandam sinais para o centro de processamento das emoções do cérebro, a amígdala. A amígdala processa essas informações e, por sua vez, repassa para o hipotálamo. O hipotálamo, então, libera CRH (hormônio liberador de corticotrofina), que estimula a hipófise, outra glândula cerebral. A hipófise produz, assim, o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico), que estimula as glândulas suprarrenais a produzirem cortisol, o hormônio do estresse. O hipotálamo, estimulado pela amígdala, também estimula o sistema nervoso autônomo simpático, provocando a liberação de adrenalina. Em resumo, um novo estímulo vai provocar a liberação de cortisol e adrenalina.
O grande problema é que, com o uso constante dos smartphones, somos submetidos continuamente a novas informações, provocando liberação incessante de cortisol e adrenalina na nossa corrente sanguínea. O excesso desses hormônios traz a sensação de estresse e esgotamento, criando um estado cerebral de constante alerta e ansiedade.
Ademais, o excesso de informações recebidas pelos celulares também ativa o núcleo Accumbens, uma parte do sistema límbico cerebral que regula o prazer, a motivação, o vício e outras emoções. Esse núcleo libera o neurotransmissor dopamina cada vez que recebemos uma nova informação nas redes sociais, uma nova interação, um novo like. A dopamina, então, se liga aos seus receptores por um curto intervalo, gerando uma sensação de prazer que nos faz sentir bem ao usar o celular. No entanto, esse estímulo dura pouco e a sensação de vazio e tédio logo sobrevém. Com o tempo, os nossos neurônios ficam “viciados” na ação da dopamina, precisando cada vez mais e mais do neurotransmissor para que possamos sentir bem-estar. Dessa forma, pela ação excessiva do cortisol, da adrenalina e da dopamina, a nomofobia se instala.
A situação é tão séria que, atualmente, já existem até grupos de reabilitação para viciados em celular e terapias específicas para lidar com o problema.
É claro que, na atual conjuntura, é extremamente difícil viver livre da influência dos celulares no cotidiano, visto que atividades fundamentais, como o trabalho e o contato com entes queridos, são frequentemente desempenhadas por meio desses aparelhos. Contudo, é preciso tomar cuidado com o uso excessivo no dia a dia, visto que as consequências a longo prazo podem envolver problemas psicológicos sérios, como depressão, ansiedade e até mesmo síndrome do pânico.
Dicas para reduzir o impacto da dependência dos smartphones no dia a dia:
- Estabelecer um número máximo de horas diárias para usar o smartphone (alguns aparelhos possuem a função de controle de tempo; se habilitada, o celular bloqueia quando o usuário ultrapassa o tempo diário estabelecido para uso);
- Colocar o celular em um local distante durante horário de trabalho ou estudo, para evitar distrações;
- Guardar o celular cerca de 1 hora antes de dormir, para não interferir no sono (o uso de telas ativa centros cerebrais relacionados à vigília, dificultando o adormecimento);
- Guardar o celular durante as refeições, visando à não interferência na sensação de saciedade;
- Tirar dias-o ff das redes sociais periodicamente, priorizando outras atividades.
REFERÊNCIAS:
MARASCIULO, Marília. 6 curiosidades sobre a história dos smartphones. Revista Galileu, 29 de julho de 2019 Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/07/6-curiosidades-so bre-historia-dos-smartphones.html. Acesso em 20 de fevereiro de 2022.
Resposta de luta ou fuga. Anahana, 8 de outubro de 2021. Disponível em https://www.anahana.com/pt/nervous-system/fight-or-flight. Acesso em 20 de fevereiro de 2022.
POLAKIEWICZ, Rafael. Conheça a nomofobia ou no-mobile: a ansiedade por afastamento do celular. Disponível em: https://pebmed.com.br/conheca-a-nomofobia-ou-no-mobile-a-ansiedade-por- afastamento-do-celular/. Acesso em: 20 fev. 2022.
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